Há fatos, coisas, momentos e pessoas capazes de marcar uma vida. Às vezes, uma simples frase dita (ou não dita) fica presa na lembrança para sempre. Ou nos fazem mudar sem nem percebermos.
Nunca vou me esquecer, por exemplo, do jeito que minha mãe ligava pra gente toda terça-feira, lá do Japão. Foi um ritual que ela criou nesse dia específico, porque era quando ela folgava no trabalho. Muitas vezes, não havia nada a dizer. Ela só queria nos escutar. Antes, quando ela e papai ainda estavam em São Paulo (e nós em Brasília), eram os domingos. Os assuntos eram variados, e nessas conversas houve choros e risos. Houve revelações. Houve fofocas. Houve confidências. E, principalmente, houve bate-papos inocentes e despretensiosos.
Quando papai ligou em casa numa quarta-feira à noite, eu respondi feliz (e ingênua).
- Oi, pai! Tudo bem?
- Tudo nada, filha. Sua mãe tá no hospital.
Meu mundo desabou. A notícia do derrame me esmagou. Eu não sabia o que pensar e comecei a chorar, só de sentir o desespero do meu pai. Ele, sozinho no hospital, esperando notícias da esposa desacordada. No outro lado do mundo, eu, sozinha em casa, queria virar vento pra abraçá-lo.
Ele desligou o telefone e eu me encolhi. Minha irmã estava na Dinamarca; tinha viajado dois dias antes para o casamento de sua amiga. Meu irmão estava na rua e eu não tive coragem de dar a notícia pelo telefone, porque sabia que ele se exaltaria. Eu não achava prudente que alguém que sofresse como eu estava sofrendo dirigisse sozinho de volta para casa. Então esperei. E, algumas horas de lágrimas depois, ele chegou.
E eu contei. E ele me abraçou. Como há muito não fazíamos, pela natureza de nossa relação. Então, depois de vários minutos chorando juntos, resolvemos ligar para nossa irmã. Ainda bem que ela tinha uma irmã de coração em quem se apoiar, também.
No dia seguinte, como que por milagre, mamãe acordou. E sofreu sua primeira cirurgia craniana.
Depois de um tempo, ela foi se recuperando. No decorrer dos meses, voltou a conversar, a se sentar, a comer sozinha, a andar. A subir escadas! Mas não voltou a ser a mesma. Porque, enquanto todo o resto voltava, a memória não quis.
Ela já não se lembra mais da nossa história. Ela nos reconhece, mas não é mais quem se lembrava dos nossos aniversários dois meses antes, para providenciar os devidos presentes. Não é mais quem nos liga às terças, nem nunca.
Ela conta histórias que não aconteceram. Tudo vem da cabeça dela, e não do passado. Algo muito injusto para quem tinha uma memória invejável.
Falar assim é até pecado. Porque ela está viva e vai nos ver casando, se é que isso um dia vai acontecer. Vai conhecer nossos filhos, seu grande sonho. Aliás, naquela noite de abril, enquanto ela não acordava, eu mentalizava: "não é hora de ela ir. Ela ainda não conheceu os netos que sempre quis". Ela vai vir morar com a gente.
Eu não quero ser mal agradecida. Nem incompreendida. Entendam: minha felicidade não cabe em mim por ela continuar convivendo com a gente, aqui nesse mundo. E por voltar viva para o Brasil, pedido que fiz secretamente assim que ela entrou naquela sala de embarque em Guarulhos, em 2007. Mas, involuntariamente, também sinto uma profunda tristeza de pensar que a alma dela pode não retornar jamais.
Afinal, ela vai "voltar" ou "começar" a viver com os filhos? Não sei. Mas tenho esperança de que tudo correrá bem. Com ela, com ele e conosco.
Aquela mãe vai viver pra sempre em mim. E, claro, também a nova mãe que teremos, assim que ela chegar a nossa nova casa. Mais um marco em nossas vidas.
E ontem, quando minha contagem regressiva para a sua volta chegou aos vinte dias, tive uma grata surpresa. Uma injeção de ânimo. Um fôlego, uma esperança. É vendo pessoas vencedoras, que sofreram mais do que podemos imaginar, superando (também) melhor do que se pode esperar, que percebemos o quanto podemos ser fortes.
Irônico, isso. A fortaleza de uma pessoa ser capaz de nos fazer ver nossas fraquezas. E fazer disso um estímulo para sermos pessoas melhores.
Obrigada, Cris. Disso eu também nunca vou me esquecer.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
RH criativo
Sou cadastrada em uma porção de sites de empregos e, de vez em quando, recebo anúncios de vagas em meu e-mail. Posso dizer que todas elas são interessantes; ou pela oportunidade ou pela forma, digamos assim, divertidas, com que são descritas. Dois desses exemplos me chamaram mais atenção:
1. Vaga: Gerente. Pré-requisito: Língua Portuguesa. (Puxa, que bom, né? Afinal, é uma vaga no Brasil, e, realmente, seria interessante que a pessoa soubesse um pouco de português. E, reparem: não precisa nem ter conhecimento avançado!).
2. Vaga: Analista de Marketing. Sigla da vaga: ANALMKT. (Hum... algo me diz que quem conseguir o cargo vai ter que aguentar coisas não muito agradáveis).
Ai, ai, ai... redação é tudo.
1. Vaga: Gerente. Pré-requisito: Língua Portuguesa. (Puxa, que bom, né? Afinal, é uma vaga no Brasil, e, realmente, seria interessante que a pessoa soubesse um pouco de português. E, reparem: não precisa nem ter conhecimento avançado!).
2. Vaga: Analista de Marketing. Sigla da vaga: ANALMKT. (Hum... algo me diz que quem conseguir o cargo vai ter que aguentar coisas não muito agradáveis).
Ai, ai, ai... redação é tudo.
Algo mudou

Neste ano, completei trinta. Quanto ao número, não tive neura, não sofri por antecedência. Trinta é um número tão normal quanto qualquer outro.
No entanto, preciso dizer: não sei se é algo comprovado, ou qualquer coisa parecida... mas estou sentindo mudanças. Um exemplo é que voltei a malhar e percebo minhas evoluções mais lentas. Percebo minha pele mais seca e sensível às mudanças de tempo. Percebo saciar meu apetite mais rápido do que antes.
Com certeza, algo mudou. Ou meu corpo está diferente, ou minhas percepções estão mais apuradas...
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Sou pobre, mas não sou porquinha
Semana passada eu gripei. Na segunda-feira, acordei com a garganta ruim e um mínimo de febre. Liguei pra chefe pra avisar que eu ia ficar em casa pra me cuidar e, caso piorasse, eu iria ao hospital. Fiquei quietinha e melhorei.
Aí liguei novamente pra chefe, avisando que iria no dia seguinte. A resposta?
- Não se preocupe. Pegue a semana toda pra se cuidar.
- Imagina... eu já tô bem. É um resfriadinho normal, como qualquer um.
- Tudo bem, mas sua imunidade está fraca. Melhor ficar em casa e evitar ficar pior.
- Tá. Se eu não melhorar amanhã, não voltarei na quarta. Pode ser?
- Fique em casa. Não se preocupe.
Fiquei de molho mais um dia e me incomodei. No dia seguinte, voltei à labuta. A recepção foi a mais estranha, com comentários repetitivos vindos de vários colegas (a chefe também estava de licença):
- O que você está fazendo aqui???
- Ué... você não estava com gripe suína?
- Já tá curada???
- Ih... vou ficar longe, tá?
Eu me senti péssima. As pessoas me olhavam enviesado, do tipo "você é uma irresponsável". Brinquei a respeito e soube até que, na terça-feira, houve gente que tinha ido trabalhar de máscara e luva. Faltou a bolha de plástico. Isso tudo por causa de uma gripezinha qualquer.
Falei novamente com a chefe, que me chamou pra conversar (fora do recinto do trabalho). Ela me orientou mais uma vez a ir pra casa, porque, por mais que eu estivesse bem, eu tinha que me cuidar.
Resultado? No dia seguinte, acordei com o nariz ruinzinho. Nada de febre, nem nada demais. Só o nariz, que me fazia espirrar (aliás, nada me tira da cabeça que isso foi puro olho-gordo). Se, no dia anterior, eu estava "excluída", imaginem como me tratariam, se eu fosse trabalhar espirrando? E lá fui eu ligar mais uma vez para a chefe. Ela repetiu que eu devia mesmo ficar em casa, e que eu não me preocupasse. Eu tinha que cuidar de mim.
Por um lado, achei legal a atitude da minha chefe, preocupada com minha saúde. Por outro, achei engraçado e absurdo o jeito exagerado que as pessoas estão lidando com esse pânico geral do porquinho. É sério? É. Mas precisa disso tudo? Não, né.
Agora, qualquer tosse é malvista. Sim, gente, existem novas doenças todos os dias por aí. Mas também não é pra tanto! Há calamidades maiores. Há doenças menos "na moda" que matam muito mais gente - e são bem mais contagiosas. É triste pensar em quantas pessoas têm morrido? Claro! É triste que isso aconteça. Mas também é triste saber de tanta gente morrendo no trânsito, e nem por isso as pessoas param de sair de casa ou, em analogia às máscaras, saem cobertos de amortecimento para se protegerem de colisões. Menos, gente! MENOS!!!
De qualquer forma, descansei, como minha chefe pediu. E ri da situação com colegas menos medrosos. Só espero que esse temor passe logo. Porque, na boa: já encheu, né?
Imagem: recebi por e-mail e achei uma graça. Foi exatamente assim que me senti na quarta passada. Pena que não sei quem fez, pra dar o devido crédito...
Aí liguei novamente pra chefe, avisando que iria no dia seguinte. A resposta?
- Não se preocupe. Pegue a semana toda pra se cuidar.
- Imagina... eu já tô bem. É um resfriadinho normal, como qualquer um.
- Tudo bem, mas sua imunidade está fraca. Melhor ficar em casa e evitar ficar pior.
- Tá. Se eu não melhorar amanhã, não voltarei na quarta. Pode ser?
- Fique em casa. Não se preocupe.
Fiquei de molho mais um dia e me incomodei. No dia seguinte, voltei à labuta. A recepção foi a mais estranha, com comentários repetitivos vindos de vários colegas (a chefe também estava de licença):
- O que você está fazendo aqui???
- Ué... você não estava com gripe suína?
- Já tá curada???
- Ih... vou ficar longe, tá?
Eu me senti péssima. As pessoas me olhavam enviesado, do tipo "você é uma irresponsável". Brinquei a respeito e soube até que, na terça-feira, houve gente que tinha ido trabalhar de máscara e luva. Faltou a bolha de plástico. Isso tudo por causa de uma gripezinha qualquer.
Resultado? No dia seguinte, acordei com o nariz ruinzinho. Nada de febre, nem nada demais. Só o nariz, que me fazia espirrar (aliás, nada me tira da cabeça que isso foi puro olho-gordo). Se, no dia anterior, eu estava "excluída", imaginem como me tratariam, se eu fosse trabalhar espirrando? E lá fui eu ligar mais uma vez para a chefe. Ela repetiu que eu devia mesmo ficar em casa, e que eu não me preocupasse. Eu tinha que cuidar de mim.
Por um lado, achei legal a atitude da minha chefe, preocupada com minha saúde. Por outro, achei engraçado e absurdo o jeito exagerado que as pessoas estão lidando com esse pânico geral do porquinho. É sério? É. Mas precisa disso tudo? Não, né.
Agora, qualquer tosse é malvista. Sim, gente, existem novas doenças todos os dias por aí. Mas também não é pra tanto! Há calamidades maiores. Há doenças menos "na moda" que matam muito mais gente - e são bem mais contagiosas. É triste pensar em quantas pessoas têm morrido? Claro! É triste que isso aconteça. Mas também é triste saber de tanta gente morrendo no trânsito, e nem por isso as pessoas param de sair de casa ou, em analogia às máscaras, saem cobertos de amortecimento para se protegerem de colisões. Menos, gente! MENOS!!!
De qualquer forma, descansei, como minha chefe pediu. E ri da situação com colegas menos medrosos. Só espero que esse temor passe logo. Porque, na boa: já encheu, né?
Imagem: recebi por e-mail e achei uma graça. Foi exatamente assim que me senti na quarta passada. Pena que não sei quem fez, pra dar o devido crédito...
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
E pai lembra dívida, por acaso?

Mais do Dia dos Pais: acabei de receber um e-mail do meu banco. Entre frases no estilo Hallmark, surge o mote da campanha: "O momento é ideal para uma dica importante: aproveite a ocasião para utilizar o seu Limite de Crédito Pessoal, com taxa especial".
BRINCOU, né?
Tem a ver com:
estresse,
família,
reclamação,
transcrição
Não tem mais jeito. Acabou. Boa sorte.

Lembram do meu review sobre o Restaurant Week? Poizé. Minha primeira experiência foi bem boa.
Aí, naquele mesmo post, eu até comentei que minha próxima parada seria o Zuu a.Z d.Z. Pois não deu.
Na segunda-feira, N, R e eu íamos lá. Mas, lá pelas 11h30, Dan me ligou dizendo que um colega dele não tinha gostado muito do menu desse lugar. Repassei a crítica às meninas e fuçamos mais um pouco o site do festival. Lá pelas 12h, resolvemos arriscar lá, mesmo. Quando estávamos saindo, nosso colega T fez mais uma crítica ao restaurante. E desistimos novamente.
Então resolvemos ir ao Bier Fass. Ok.
Pegamos um baita engarrafamento - houve acidente a caminho da ponte. Demorou, mas chegamos ao Pontão. Pra dar de cara com um salão cheio de cadeiras sobre as mesas e garçons lavando o chão do restaurante. Fechado.
Diante dessa imagem, fomos ao Bier do Gilberto. E, lá, descobrimos que, não, eles não participam do festival. Só o Bier do Pontão. Aff... mas, beleza, acabamos comendo um prato "para duas pessoas" que, por 23 dinheiros cada (já com as bebidas e os 10%), nos deixou duplamente satisfeitas.
Hoje, fui com o Dan ao Villa Borghese. Pra quem não conhece, é um restaurante tradicionalíssimo em Brasília, com preços nem tanto. Por isso, resolvemos aproveitar o festival lá. Nós e mais uma renca de gente. Tinha fila, lista de espera, o escambau. Quando finalmente nos sentamos, fiquei chateada com a falta de tato de alguns garçons. Pelo menos a comida era deliciosa, mesmo. Mas não recomendo como recomendei o Universal Diner.
Talvez essa discrepância se dê pelo volume de pessoas. No início do Restaurant Week, os restaurantes não deviam lotar como agora. É aquela velha história do boca-a-boca (ou, no caso, blog-a-blog). Uma pena.
Mas, então, que fique a dica: na próxima, quem quiser aproveitar uma boquinha como essa, que vá logo no início. No final, não desce. Infelizmente.
Foto: www.restaurantweek.com.br
Tem a ver com:
comida,
dicas,
paciência,
restaurante,
review
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Presente (grego) dos pais
Dia dos Pais se aproximando, e eu viajo ao passado.
Lembro-me dos "ótimos" presentinhos que eu dava ao meu pai e minha mãe em seus respectivos dias.
Na escola, cansei de fazer porta-gravatas para o papis. Detalhe: papai trabalhava com granja - e fugia da tal da gravata até mesmo em casamentos. Mamãe ganhou várias caixinhas feitas de palitos de sorvete, prendedores de roupa e afins. Quem diria que reciclagem ficaria tão in, tantos anos depois?
Uma só palavra pode definir perfeitamente as ideias "geniais" ao longo dos anos: esdrúxulas.
Hoje, minhas amigas professoras dizem que rola todo um pensamento-logístico-estratégico para as crianças não "micarem" ao preparar suas homenagens aos papais e mamães. Tem que tomar cuidado quando a criança não tem pai, por exemplo. Tem que pensar se a religião da família permite algumas comemorações. Tem que verificar se a criança tem mãe E madrasta (porque, aí, não pode homenagear só uma delas...). Aff...
Pensa-se em muita coisa. Só não se pensa se os pais querem pagar R$40,00 para GANHAR uma ecobag que seu filho vai personalizar. E o melhor: se os pais têm dois filhos na mesma escola, independente de que série eles cursam, eles "ganharão" duas ecobags!!! E um débito extra de R$80,00 em um mês.
Esdrúxulo por esdrúxulo, fico com meus porta-gravatas reciclados.
Independente disso... FELIZ DIA DOS PAIS!
Lembro-me dos "ótimos" presentinhos que eu dava ao meu pai e minha mãe em seus respectivos dias.

Uma só palavra pode definir perfeitamente as ideias "geniais" ao longo dos anos: esdrúxulas.
Hoje, minhas amigas professoras dizem que rola todo um pensamento-logístico-estratégico para as crianças não "micarem" ao preparar suas homenagens aos papais e mamães. Tem que tomar cuidado quando a criança não tem pai, por exemplo. Tem que pensar se a religião da família permite algumas comemorações. Tem que verificar se a criança tem mãe E madrasta (porque, aí, não pode homenagear só uma delas...). Aff...
Pensa-se em muita coisa. Só não se pensa se os pais querem pagar R$40,00 para GANHAR uma ecobag que seu filho vai personalizar. E o melhor: se os pais têm dois filhos na mesma escola, independente de que série eles cursam, eles "ganharão" duas ecobags!!! E um débito extra de R$80,00 em um mês.
Esdrúxulo por esdrúxulo, fico com meus porta-gravatas reciclados.
Independente disso... FELIZ DIA DOS PAIS!
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