segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Acorde pra cuspir

Na época da escola, havia as panelinhas.

As meninas magras e ricas retocavam sua maquiagem no meio da aula. Os revolucionários achavam aquilo um absurdo - tanta gente morrendo de fome na África, e aquelas patricinhas gastando rios de dinheiro do papai em maquiagem.

Enquanto isso, os CDF pediam silêncio e reinavam absolutos como os preferidos dos professores. Os bagunceiros só zoavam e ficavam de recuperação. Havia ainda os renegados... aqueles dois ou três que não se encaixavam em nenhuma "categoria" e sofriam bullying (mas ninguém sabia o que era isso) de todos os outros. Menos dos café com leite, que não fediam nem cheiravam. Não eram os mais aplicados da sala, nem os mais bonitos. Não se davam muito bem com nenhum outro grupo, mas também não entravam em nenhum conflito.

Muito daquele ódio era, na verdade, uma invejinha velada.   A gente olha para trás e pensa que tudo aquilo era uma grande bobagem. Preconceito besta. Aquela história de que os bagunceiros não se dão bem na vida é uma balela sem fim. Conheço muitos ex-bagunceiros com muito sucesso. Muitas patricinhas com um coração imenso. Amigos que vestiam a camisa do Che e, agora, viajam todo ano para a Disney. De que valeu tudo aquilo? Talvez tenha sido uma lição para a nossa vida: todo mundo tem seu valor.

Mas passou. Aquilo foi picuinha de adolescência. Isso não faz mais parte da vida de gente com 30 anos (ou mais) na cara, né? De pai e mãe de família. Será???

Ultimamente, enquanto tenho feito amigos muito queridos, também tenho tido certos flashbacks dessa vida colegial. Tenho testemunhado gente que curte passar o dia fazendo a caveira dos outros. Gente que se dá ao trabalho de virar para o lado e dizer coisas horríveis de um terceiro. Muitas vezes (pra não dizer a maioria delas), inventam mentiras deslavadas só para criar assunto. Por ganância ou pura falta do que fazer. Por ciuminho bobo. Por inveja. Falar mal, do tipo: "nossa, como fulana é brega!"; "que nojo, esse cara é gay"; "que ridícula, essa garota se acha rica!"; "a mulher dele é gata - aposto que ele é corno"; "essa criatura é muito gorda!"... e por aí vai. E pra quê? O que ganham com isso? Pelo que tenho notado, eles ganham bastante espaço - graças à quantidade de gente que se afasta deles.

É inevitável ter um pouco de ciúmes quando a sua "concorrência" começa a ter sucesso. Dá medo. Mas o que vale mais a pena: criar novas estratégias para si mesmo ou mentiras sobre o outro? Bater de frente ou dar as mãos? Inventar picuinhas ou parcerias? Aprender com os erros ou insistir neles?

Ninguém é perfeito, isso é fato. Mas a gente tenta se policiar para errar o mínimo possível. Pra começar esse exercício, que tal cada um cuidar do seu próprio umbigo e parar de criar confusão por balinha? A adolescência passou.

Acorde pra cuspir.

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